"O conhecimento de Deus que opera a transformação de caráter é
nossa grande necessidade. Se cumprirmos o Seu propósito, precisará haver
em nossa vida uma revelação de Deus que corresponda aos ensinos de Sua
Palavra.
A experiência de Enoque e a de João Batista representam o que deve
ser a nossa. Necessitamos, muito mais do que o fazemos, estudar a vida
destes homens: a daquele que foi transladado para o Céu sem ver a morte,
e a daquele que, antes do primeiro advento de Cristo, foi chamado a
preparar o caminho do Senhor, a endireitar as Suas veredas.
A experiência de Enoque
A respeito de Enoque, está escrito que ele viveu 65 anos e gerou
um filho; depois disso ele andou com Deus trezentos anos. Durante
aqueles primeiros anos, Enoque havia amado e temido a Deus, e havia
guardado os Seus mandamentos. Mas após o nascimento de seu primeiro
filho ele alcançou uma experiência mais elevada; foi levado a um
relacionamento mais íntimo com Deus. Ao contemplar o amor do filho pelo
pai, a confiança simples em sua proteção; ao sentir a profunda e
anelante ternura de seu próprio coração pelo filho primogênito, ele
aprendeu uma preciosa lição do maravilhoso amor de Deus pelo homem,
através da dádiva de Seu Filho, e da confiança que os filhos de Deus
podem depositar em seu Pai celestial. O infinito e insondável amor de
Deus por meio de Cristo tornou-se o objeto de suas reflexões dia e
noite. Com todo o fervor de seu coração ele buscava revelar esse amor ao
povo entre o qual vivia.
A caminhada de Enoque com Deus não era em transe ou visão, mas em
todos os deveres de sua vida diária. Não se tornou um eremita,
separando-se inteiramente do mundo, pois tinha, neste mesmo mundo, uma
obra a realizar para Deus. No âmbito familiar e em suas relações com as
pessoas, na qualidade de esposo e pai, como amigo, como cidadão, era ele
sempre o firme e inamovível servo de Deus.
Sua fé fortaleceu, e seu amor se tornou mais ardente com o passar
dos séculos. A oração era para ele a respiração da alma. Ele vivia na
atmosfera do Céu.
À medida que as cenas do futuro se abriam diante de seus olhos,
Enoque tornou-se um pregador da justiça, apresentando a mensagem de Deus
a todos que se dispusessem a ouvir as palavras de advertência. Nas
terras para as quais Caim fugira de diante da presença de Deus, o divino
profeta tornou conhecidas as maravilhosas cenas que diante dele haviam
sido apresentadas em visão. Declarou ele: “Eis que é vindo o Senhor com
milhares de Seus santos, para fazer juízo contra todos e condenar dentre
eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade que
impiamente cometeram e por todas as duras palavras que ímpios pecadores
disseram contra Ele.” Judas 14, 15.
O poder de Deus que operava em Seu servo fazia-se sentir sobre os
que ouviam. Alguns deram ouvidos à advertência e renunciaram a seus
pecados; as multidões, porém, zombaram diante da solene mensagem. Os
servos de Deus devem apresentar semelhante mensagem ao mundo nestes
últimos dias, e ocorrerá novamente ser ela recebida com descrença e
zombaria.
Enquanto transcorria ano após ano, mais e mais profundo se tornava
o abismo da culpa humana, mais e mais escuras se tornavam as nuvens dos
julgamentos divinos. Entretanto, Enoque, a fiel testemunha, mantinha-se
em atividade, advertindo, suplicando e ensinando, esforçando-se por
manter afastada a maré de culpa e por segurar os raios da vingança.
Os homens daquela geração zombaram do homem tolo que não procurava
juntar ouro ou prata, nem agregar posses. Mas o coração de Enoque
prendia-se a tesouros eternos. Contemplara ele a cidade celestial. Vira o
Rei dos reis em Sua glória no meio de Sião. Quanto maior é a
iniqüidade, mais sincera era a sua aspiração pelo lar de Deus. Enquanto
ainda na Terra, ele habitava, pela fé, no reino da luz.
“Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.” Mateus 5:8.
Durante trezentos anos, Enoque estivera buscando a pureza de coração,
para que pudesse estar em harmonia com o Céu. Durante três séculos,
andara com Deus. Dia após dia, almejara uma união mais íntima; cada vez
mais estreita se tornara a comunhão até que Deus o tomou para Si.
Estivera no limiar do mundo eterno, havendo apenas um passo entre ele e o
país da bem-aventurança; e, agora, abriram-se os portais; o andar com
Deus, durante tanto tempo praticado na Terra, continuou, e ele passou
pelas portas da santa cidade — o primeiro dentre os homens a entrar ali.
“Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte... pois,
antes da sua trasladação, obteve testemunho de haver agradado a Deus.” Hebreus 11:5.
Deus nos está chamando para tal comunhão. Como era a de Enoque,
deve ser a santidade de caráter dos que serão remidos dentre os homens
por ocasião da segunda vinda do Senhor.
A experiência de João Batista
João Batista, em sua vida no deserto, foi ensinado por Deus. Ele
estudou as revelações de Deus na natureza. Sob a orientação do Espírito
de Deus, estudou os escritos dos profetas. De dia e de noite, Cristo era
o seu estudo, sua meditação, até que a mente e o coração ficassem
cheios da gloriosa visão.
Ele contemplava o Rei em Sua beleza, e o eu se perdia de vista. Ao
contemplar a majestade da santidade reconhecia-se incapaz e indigno.
Essa era a mensagem de Deus que ele tinha de anunciar. E no poder de
Deus e em Sua justiça ele deveria confiar. Estava pronto a sair como
mensageiro celestial, sem se impressionar com as pessoas, pois ele havia
contemplado a Divindade. Podia comparecer destemidamente perante
monarcas terrestres, pois se havia curvado perante o Rei dos reis.
João pregou sua mensagem sem argumentos elaborados ou teorias
incoerentes. Sua voz clara e resoluta, mas cheia de esperança, foi
ouvida no deserto: “Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos Céus.” Mateus 3:2. Com um poder novo e estranho, ela atraiu o povo. A nação toda ficou agitada. Multidões afluíram ao deserto.
Camponeses e pescadores iletrados das cercanias; soldados romanos
dos quartéis de Herodes; capitães com suas espadas embainhadas, prontos a
debelar qualquer coisa que tivesse a aparência de rebelião; avarentos
coletores de impostos vindos das bancas de arrecadação; e do Sinédrio,
os orgulhosos sacerdotes — todos ouviam fascinados; e todos, mesmo os
fariseus, os saduceus, os frios e indiferentes zombadores, se retiravam
tendo silenciado sua zombaria, profundamente abatidos pela convicção de
seus pecados. Herodes ouviu a mensagem em seu palácio, e o orgulhoso e
empedernido governante tremeu ante o convite ao arrependimento.
Nesta época, que antecede a segunda vinda de Cristo nas nuvens do
céu, deve ser feita uma obra como a de João Batista. Deus chama homens
com o objetivo de preparar um povo para o grande dia do Senhor. A
mensagem procedente do ministério público de Cristo era:
“Arrependei-vos, publicanos e pecadores; arrependei-vos, fariseus e
saduceus.” “Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos Céus.” Mateus 3:2.
Como um povo que acredita no breve aparecimento de Cristo, temos uma
mensagem a dar: “Prepara-te, ... para te encontrares com o teu Deus.” Amós 4:12. Nossa mensagem precisa ser direta como foi a mensagem de João. Ele censurava os reis por sua iniqüidade. Embora sua
vida estivesse em perigo, não hesitava em declarar a Palavra de Deus. E
nossa obra, neste tempo, precisa ser realizada com a mesma fidelidade.
Para pregarmos tal mensagem como João o fez, necessitamos ter uma
experiência espiritual semelhante à dele. A mesma obra tem de ser
realizada em nós. Precisamos contemplar a Deus, e ao contemplá-Lo,
perder de vista nosso eu.
João possuía por natureza os defeitos e fraquezas comuns à
humanidade; mas o toque do amor divino o transformou. Quando, depois de
haver Cristo iniciado Seu ministério, os discípulos de João foram ter
com ele com a queixa de que todos os homens estavam seguindo o novo
Mestre, João mostrou quão claramente compreendia sua relação para com o
Messias e quão alegremente recebia Aquele para o qual preparara o
caminho.
“O homem não pode receber coisa alguma, se lhe não for dada do
Céu. Vós mesmos me sois testemunhas de que disse: eu não sou o Cristo,
mas sou enviado adiante dEle. Aquele que tem a esposa é o esposo; mas o
amigo do esposo, que lhe assiste e o ouve, alegra-se muito com a voz do
esposo. Assim, pois, já essa minha alegria está cumprida. É necessário
que Ele cresça e que eu diminua.” João 3:27-30.
Contemplando com fé o Redentor, João se erguera à altura da
abnegação. Não procurava atrair os homens a si mesmo, e, sim, erguer-lhe
os pensamentos mais e mais alto, até repousarem no Cordeiro de Deus.
Ele mesmo fora apenas uma voz, um clamor no deserto. Agora, com alegria
aceitava o silêncio e a obscuridade, para que os olhos de todos
convergissem para a Luz da vida.
Os que são fiéis à sua vocação como mensageiros de Deus, não
buscarão honra para si mesmos. O amor-próprio submergir-se-á no amor de
Cristo. Reconhecerão que é sua obra proclamar, como o fazia João
Batista: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” João 1:29.
Exaltarão a Jesus, e com Ele será exaltada a humanidade. “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade e
cujo nome é Santo: Em um alto e santo lugar habito e também com o
contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e
para vivificar o coração dos contritos.” Isaías 57:15.
O espírito do profeta, esvaziado do eu, enchera-se da luz divina.
Em palavras que representavam quase uma contrapartida às palavras do
próprio Cristo, testemunhou ele da glória do Salvador: “Aquele que vem
de cima é sobre todos, aquele que vem da Terra é da Terra e fala da
Terra. Aquele que vem do Céu é sobre todos... Porque aquele que Deus
enviou fala as palavras de Deus, pois não lhe dá Deus o Espírito por
medida.” João 3:31-34.
Testemunhos para a Igreja 8. Págs. 329 - 334.
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