segunda-feira, 9 de julho de 2012

Nossa Grande Necessidade

"O conhecimento de Deus que opera a transformação de caráter é nossa grande necessidade. Se cumprirmos o Seu propósito, precisará haver em nossa vida uma revelação de Deus que corresponda aos ensinos de Sua Palavra.
A experiência de Enoque e a de João Batista representam o que deve ser a nossa. Necessitamos, muito mais do que o fazemos, estudar a vida destes homens: a daquele que foi transladado para o Céu sem ver a morte, e a daquele que, antes do primeiro advento de Cristo, foi chamado a preparar o caminho do Senhor, a endireitar as Suas veredas.
 
A experiência de Enoque 
 
A respeito de Enoque, está escrito que ele viveu 65 anos e gerou um filho; depois disso ele andou com Deus trezentos anos. Durante aqueles primeiros anos, Enoque havia amado e temido a Deus, e havia guardado os Seus mandamentos. Mas após o nascimento de seu primeiro filho ele alcançou uma experiência mais elevada; foi levado a um relacionamento mais íntimo com Deus. Ao contemplar o amor do filho pelo pai, a confiança simples em sua proteção; ao sentir a profunda e anelante ternura de seu próprio coração pelo filho primogênito, ele aprendeu uma preciosa lição do maravilhoso amor de Deus pelo homem, através da dádiva de Seu Filho, e da confiança que os filhos de Deus podem depositar em seu Pai celestial. O infinito e insondável amor de Deus por meio de Cristo tornou-se o objeto de suas reflexões dia e noite. Com todo o fervor de seu coração ele buscava revelar esse amor ao povo entre o qual vivia.
A caminhada de Enoque com Deus não era em transe ou visão, mas em todos os deveres de sua vida diária. Não se tornou um eremita, separando-se inteiramente do mundo, pois tinha, neste mesmo mundo, uma obra a realizar para Deus. No âmbito familiar e em suas relações com as pessoas, na qualidade de esposo e pai, como amigo, como cidadão, era ele sempre o firme e inamovível servo de Deus.
Sua fé fortaleceu, e seu amor se tornou mais ardente com o passar dos séculos. A oração era para ele a respiração da alma. Ele vivia na atmosfera do Céu.
À medida que as cenas do futuro se abriam diante de seus olhos, Enoque tornou-se um pregador da justiça, apresentando a mensagem de Deus a todos que se dispusessem a ouvir as palavras de advertência. Nas terras para as quais Caim fugira de diante da presença de Deus, o divino profeta tornou conhecidas as maravilhosas cenas que diante dele haviam sido apresentadas em visão. Declarou ele: “Eis que é vindo o Senhor com milhares de Seus santos, para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade que impiamente cometeram e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra Ele.” Judas 14, 15.
O poder de Deus que operava em Seu servo fazia-se sentir sobre os que ouviam. Alguns deram ouvidos à advertência e renunciaram a seus pecados; as multidões, porém, zombaram diante da solene mensagem. Os servos de Deus devem apresentar semelhante mensagem ao mundo nestes últimos dias, e ocorrerá novamente ser ela recebida com descrença e zombaria.
Enquanto transcorria ano após ano, mais e mais profundo se tornava o abismo da culpa humana, mais e mais escuras se tornavam as nuvens dos julgamentos divinos. Entretanto, Enoque, a fiel testemunha, mantinha-se em atividade, advertindo, suplicando e ensinando, esforçando-se por manter afastada a maré de culpa e por segurar os raios da vingança.
Os homens daquela geração zombaram do homem tolo que não procurava juntar ouro ou prata, nem agregar posses. Mas o coração de Enoque prendia-se a tesouros eternos. Contemplara ele a cidade celestial. Vira o Rei dos reis em Sua glória no meio de Sião. Quanto maior é a iniqüidade, mais sincera era a sua aspiração pelo lar de Deus. Enquanto ainda na Terra, ele habitava, pela fé, no reino da luz.
“Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.” Mateus 5:8. Durante trezentos anos, Enoque estivera buscando a pureza de coração, para que pudesse estar em harmonia com o Céu. Durante três séculos, andara com Deus. Dia após dia, almejara uma união mais íntima; cada vez mais estreita se tornara a comunhão até que Deus o tomou para Si. Estivera no limiar do mundo eterno, havendo apenas um passo entre ele e o país da bem-aventurança; e, agora, abriram-se os portais; o andar com Deus, durante tanto tempo praticado na Terra, continuou, e ele passou pelas portas da santa cidade — o primeiro dentre os homens a entrar ali.
“Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte... pois, antes da sua trasladação, obteve testemunho de haver agradado a Deus.” Hebreus 11:5.
Deus nos está chamando para tal comunhão. Como era a de Enoque, deve ser a santidade de caráter dos que serão remidos dentre os homens por ocasião da segunda vinda do Senhor.
 
A experiência de João Batista 
 
João Batista, em sua vida no deserto, foi ensinado por Deus. Ele estudou as revelações de Deus na natureza. Sob a orientação do Espírito de Deus, estudou os escritos dos profetas. De dia e de noite, Cristo era o seu estudo, sua meditação, até que a mente e o coração ficassem cheios da gloriosa visão.
Ele contemplava o Rei em Sua beleza, e o eu se perdia de vista. Ao contemplar a majestade da santidade reconhecia-se incapaz e indigno. Essa era a mensagem de Deus que ele tinha de anunciar. E no poder de Deus e em Sua justiça ele deveria confiar. Estava pronto a sair como mensageiro celestial, sem se impressionar com as pessoas, pois ele havia contemplado a Divindade. Podia comparecer destemidamente perante monarcas terrestres, pois se havia curvado perante o Rei dos reis.
João pregou sua mensagem sem argumentos elaborados ou teorias incoerentes. Sua voz clara e resoluta, mas cheia de esperança, foi ouvida no deserto: “Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos Céus.” Mateus 3:2. Com um poder novo e estranho, ela atraiu o povo. A nação toda ficou agitada. Multidões afluíram ao deserto.
Camponeses e pescadores iletrados das cercanias; soldados romanos dos quartéis de Herodes; capitães com suas espadas embainhadas, prontos a debelar qualquer coisa que tivesse a aparência de rebelião; avarentos coletores de impostos vindos das bancas de arrecadação; e do Sinédrio, os orgulhosos sacerdotes — todos ouviam fascinados; e todos, mesmo os fariseus, os saduceus, os frios e indiferentes zombadores, se retiravam tendo silenciado sua zombaria, profundamente abatidos pela convicção de seus pecados. Herodes ouviu a mensagem em seu palácio, e o orgulhoso e empedernido governante tremeu ante o convite ao arrependimento.
Nesta época, que antecede a segunda vinda de Cristo nas nuvens do céu, deve ser feita uma obra como a de João Batista. Deus chama homens com o objetivo de preparar um povo para o grande dia do Senhor. A mensagem procedente do ministério público de Cristo era: “Arrependei-vos, publicanos e pecadores; arrependei-vos, fariseus e saduceus.” “Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos Céus.” Mateus 3:2. Como um povo que acredita no breve aparecimento de Cristo, temos uma mensagem a dar: “Prepara-te, ... para te encontrares com o teu Deus.” Amós 4:12. Nossa mensagem precisa ser direta como foi a mensagem de João. Ele censurava os reis por sua iniqüidade. Embora sua vida estivesse em perigo, não hesitava em declarar a Palavra de Deus. E nossa obra, neste tempo, precisa ser realizada com a mesma fidelidade.
Para pregarmos tal mensagem como João o fez, necessitamos ter uma experiência espiritual semelhante à dele. A mesma obra tem de ser realizada em nós. Precisamos contemplar a Deus, e ao contemplá-Lo, perder de vista nosso eu.
João possuía por natureza os defeitos e fraquezas comuns à humanidade; mas o toque do amor divino o transformou. Quando, depois de haver Cristo iniciado Seu ministério, os discípulos de João foram ter com ele com a queixa de que todos os homens estavam seguindo o novo Mestre, João mostrou quão claramente compreendia sua relação para com o Messias e quão alegremente recebia Aquele para o qual preparara o caminho.
“O homem não pode receber coisa alguma, se lhe não for dada do Céu. Vós mesmos me sois testemunhas de que disse: eu não sou o Cristo, mas sou enviado adiante dEle. Aquele que tem a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que lhe assiste e o ouve, alegra-se muito com a voz do esposo. Assim, pois, já essa minha alegria está cumprida. É necessário que Ele cresça e que eu diminua.” João 3:27-30.
Contemplando com fé o Redentor, João se erguera à altura da abnegação. Não procurava atrair os homens a si mesmo, e, sim, erguer-lhe os pensamentos mais e mais alto, até repousarem no Cordeiro de Deus. Ele mesmo fora apenas uma voz, um clamor no deserto. Agora, com alegria aceitava o silêncio e a obscuridade, para que os olhos de todos convergissem para a Luz da vida.
Os que são fiéis à sua vocação como mensageiros de Deus, não buscarão honra para si mesmos. O amor-próprio submergir-se-á no amor de Cristo. Reconhecerão que é sua obra proclamar, como o fazia João Batista: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” João 1:29.
Exaltarão a Jesus, e com Ele será exaltada a humanidade. “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade e cujo nome é Santo: Em um alto e santo lugar habito e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e para vivificar o coração dos contritos.” Isaías 57:15.
O espírito do profeta, esvaziado do eu, enchera-se da luz divina. Em palavras que representavam quase uma contrapartida às palavras do próprio Cristo, testemunhou ele da glória do Salvador: “Aquele que vem de cima é sobre todos, aquele que vem da Terra é da Terra e fala da Terra. Aquele que vem do Céu é sobre todos... Porque aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus, pois não lhe dá Deus o Espírito por medida.” João 3:31-34.
Dessa glória de Cristo devem participar todos os Seus seguidores. Só podemos receber da luz do Céu à medida que estamos dispostos a esvaziar-nos do próprio eu. Só podemos discernir o caráter de Deus e aceitar a Cristo pela fé, se consentirmos em levar cativo todo pensamento à obediência de Cristo. A todos os que isso fazem, o Espírito Santo é dado sem medida. Em Cristo “habita corporalmente toda a plenitude da divindade. E estais perfeitos nEle”. Colossences 2:9, 10.  

Testemunhos para a Igreja 8. Págs. 329 - 334.

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